quarta-feira, 17 de março de 2010

Concorrência com a mecanização

" No Pontal do Paranapanema, oeste de São Paulo, os cortadores de cana estão se dedicando aos estudos. Eles buscam aprender novas funções para escapar do desemprego que deve chegar com a mecanização das lavouras.

Aos 47 anos, o trabalhador rural Francisco Oliveira sabe que no canavial moderno não há espaço para o bóia-fria. "Quanto mais máquinas vai acabando nossa profissão de cortador de cana", disse.

A expansão do setor sucroalcooleiro no oeste do Estado de São Paulo começou no final da década de 90. Para ocupar enormes áreas com cana de açúcar, trabalhadores rurais vieram de várias regiões do país. Hoje, o trabalho abundante está desaparecendo.

Uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista revela que entre 2007 e 2009 vinte e três mil cortadores de cana perderam o emprego em todo o Estado de São Paulo.

No final da tarde o facão parece mais pesado. O corpo da sinais de que chegou a hora de parar. "Eu gostaria de sair daqui porque é sofrido esse trabalho", falou a trabalhadora rural Aparecida dos Santos.

Foi na lida nos canaviais que Aparecida encontrou energia para, sozinha, criar dois filhos e construir a casa onde mora. "Se eu pudesse voltar atrás eu teria estudado. Eu não estudei. Então, eu hoje estou tentando ser alguém na vida. Se Deus quiser ainda vou conseguir ser", falou.

É na sala de aula que os trabalhadores voltam a se encontrar. Muitos não concluíram o ensino fundamental. Além de qualificar para o mercado de trabalho, a educação começa a transformar a vida dessas pessoas.

A escolaridade média dos trabalhadores da cana é de 3,7 anos. Os cursos profissionalizantes são uma parceria de uma usina e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Para frequentá-los é preciso apenas saber ler e escrever. Setenta por cento das vagas são para quem já trabalha no setor. O restante é para quem está desempregado.

"Estamos buscando a profissionalização desse pessoal para que eles tenham uma melhor qualidade de vida e que possam migrar para uma mão de obra mais qualificada", explicou Adilson Segato, gerente de usina.

Indo ao encontro a novas oportunidades, mulheres buscam lugares antes ocupados apenas por homens. "Eu pretendo fazer esse curso porque é uma vontade que eu tenho de dirigir uma máquina e é uma oportunidade pra gente que quer trabalhar", falou Aparecida da Conceição, trabalhadora rural desempregada.

Nos últimos dois anos, surgiram 3,7 mil vagas de operadores de máquinas. Existem no país, novecentos mil cortadores de cana. A estimativa do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social é que até 2014 sessenta mil trabalhadores rurais percam o emprego somente no Estado de São Paulo.

Para o Sindicato Rural, mesmo com a capacitação, é impossível o mercado de trabalho absorver tantos profissionais. "Aqui está tendo curso de soldador, de operador de caldeira e vários outros cursos fora do setor sucroalcooleiro. Somente aprender a operar máquinas agrícolas não vai preencher essa lacuna que é automatização do setor sucroalcooleiro, que está causando o desemprego", falou Elmo Silveiro Lesio, presidente do Sindicato dos Cortadores de Cana.

Cristiano Silva começou no corte da cana aos 13 anos de idade. O desgaste precoce foi recompensado. Hoje, é ele quem coordena o processo de mecanização de uma usina de álcool. "A oportunidade está aí para a pessoa crescer. Basta ela se aperfeiçoar que consegue chegar lá", disse. "

Fonte: Globo Rural - Rede Globo
http://www.biocana.com.br/capa/lenoticia.asp?ID=10496

Postado por: Rafael Amorim

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